Mediação com livro sem palavras na biblioteca escolar: o que fazer com os temas "doloridos"?

Resumo

Mediar literatura também é responsabilidade da biblioteca escolar. A literatura é imprescindível na formação do leitor crítico, mas é fundamental que o mediador diversifique os gêneros de textos literários. Discute-se nesse trabalho a mediação da leitura por meio dos livros sem palavras. Tem-se como objetivo identificar livros sem palavras que apresentam temas doloridos e sugerir como eles podem ser explorados pelos mediadores. Salienta-se que os livros sem palavras aqui focados são os que abordam temáticas doloridas. Temáticas que muitas vezes suscitam o medo e acabam sendo evitadas na biblioteca escolar ou na família por vários motivos, entre eles: insegurança do mediador, preocupação excessiva com a “fragilidade” da criança ou mesmo com o medo da reação dos familiares. Em relação aos procedimentos metodológicos, adotou-se a pesquisa bibliográfica e documental com caráter descritivo e abordagem qualitativa. Pretende-se com o foco nas obras sem palavras que elas sirvam de sugestão aos mediadores na escola. A escolha teve como base inicial a elaboração da listagem das obras que foram premiadas, desde 1981, pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), quando foi criada essa categoria. Elas focam diferentes emoções, entre elas: alegria, tristeza, solidão, amor, desamor, afeto, perdas, abandono; porém foram selecionadas apenas as obras sem palavras que abordavam temas doloridos, e que foram assim classificadas: questões lúdicas, questões sociais, questões existenciais e questões ambientais. Optou-se pela obra 'Cena de Rua' de Angela Lago como modelo de mediação da leitura. Justifica-se a escolha por se tratar de uma obra classificada como 'hors-concours' e por conter uma temática considerada pelos proponentes do artigo com possibilidade máxima de provocar compaixão, que é o trabalho infantil e a situação de rua. Conclui-se que a leitura reflexiva e crítica das obras com temáticas dolorosas é tão fundamental quanto a literatura jocosa, cabendo aos mediadores diversificar seu repertório no momento da escolha da obra, sem temer narrativas com imagens consideradas traumatizantes, pelo contrário, estando atento e sensível para aproveitar as oportunidades de contribuir com o equilíbrio ou reequilíbrio emocional dos leitores e sua sensibilidade social.